RESUMO.
INFORMATIVO 578 DO STJ.
DIREITO
CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA POR DANOS MATERIAIS
DECORRENTES DE DESVIOS DE VALORES POR GERENTE DE CONTA BANCÁRIA. A instituição
financeira deverá restituir os valores desviados por gerente que, conquanto
tivesse autorização do correntista para realizar aplicações financeiras,
utilizou-se das facilidades de sua função para desviar em proveito próprio
valores constantes da conta bancária do cliente. De fato, tendo o
gerente se utilizado das facilidades da função para desviar valores da conta do
cliente, deve o banco, como empregador, responder pelos danos materiais
causados, visto que, conforme o inciso III do art. 932 do CC, serão também
responsáveis pela reparação civil "o empregador ou comitente, por seus
empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir,
ou em razão dele".REsp 1.569.767-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 1º/3/2016, DJe 9/3/2016.
DIREITO
CIVIL. TERMO FINAL DE PENSÃO MENSAL POR ATO ILÍCITO COM RESULTADO MORTE. O fato
de a vítima de ato ilícito com resultado morte possuir, na data do óbito, idade
superior à expectativa média de vida do brasileiro não afasta o direito de seu
dependente econômico ao recebimento de pensão mensal, que será devida até a
data em que a vítima atingiria a expectativa de vida prevista na tabela de
sobrevida (Tábua Completa de Mortalidade) do IBGE vigente na data do óbito,
considerando-se, para os devidos fins, o gênero e a idade da vítima. Na jurisprudência
nacional, é assente o entendimento de que, nos casos em que há acidente com
morte, cabe, como forma de reparar o dano material sofrido, entre outras
medidas, a fixação de pensão mensal a ser paga ao dependente econômico da
vítima. Nos casos em que a vítima é jovem, a orientação do STJ é a de que
referida obrigação deve perdurar até a data em que a vítima vier a atingir a
idade correspondente à expectativa média de vida do brasileiro na data do óbito
(REsp 1.201.244-RJ, Terceira Turma, DJe 13/5/2015; REsp 1.325.034-SP, Terceira
Turma, DJe 11/5/2015; AgRg nos EDcl no AREsp 119.035-RJ, Quarta Turma, DJe
19/2/2015; e AgRg nos EDcl no REsp 1.351.679-PR, Quarta Turma, DJe 16/10/2014).
No entanto, este mesmo critério não pode ser utilizado como forma de obstar o
direito daquele que é dependente econômico de vítima cuja idade era superior à
expectativa média de vida do brasileiro na data do falecimento, na medida em
que representaria a adoção do entendimento segundo o qual, quando a vítima
tivesse superado a expectativa média de vida do brasileiro, o seu dependente
econômico direto simplesmente não teria direito ao ressarcimento material
representado pelo pensionamento, o que não seria razoável. O direito à pensão
mensal surge exatamente da necessidade de reparação por dano material
decorrente da perda de ente familiar que contribuía com o sustento de quem era
economicamente dependente até o momento do óbito. Nesse contexto, o fato de a
vítima já ter ultrapassado a idade correspondente à expectativa média de vida
do brasileiro, por si só, não é óbice ao deferimento do benefício, pois muitos
são os casos em que referida faixa etária é ultrapassada. Por isso, é
conveniente a utilização da tabela de sobrevida (Tábua Completa de Mortalidade
correspondente ao gênero da vítima) do IBGE em vigência na data do óbito para
melhor valorar a expectativa de vida da vítima e, consequentemente, para fixar
o termo final da pensão. REsp 1.311.402-SP, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 18/2/2016, DJe 7/3/2016.
DIREITO CIVIL.
PERÍODO DE INCIDÊNCIA DO VALOR ESTIPULADO EM AÇÃO REVISIONAL DE ALUGUEL DE
IMÓVEL NÃO RESIDENCIAL. O valor estabelecido em ação revisional de aluguel de
imóvel não residencial não tem sua incidência limitada ao período compreendido
entre a citação e o termo final do contrato original de locação, devendo
incidir até a efetiva entrega das chaves caso a locação venha a ser prorrogada
por prazo indeterminado em razão da permanência do locatário no imóvel (art.
56, parágrafo único, da Lei n. 8.245/1991). Como
se pode facilmente extrair da leitura do parágrafo único do art. 56 da Lei n.
8.245/1991, a permanência do locatário no imóvel, por período superior a trinta
dias, quando findo o prazo originalmente pactuado no contrato de locação não
residencial, enseja a prorrogação da avença, nas condições previamente
ajustadas, por prazo indeterminado. De outro lado, a procedência do pedido
formulado em ação revisional de aluguel acarreta alteração de uma das condições
ajustadas: a do valor da locação. Entretanto, essa situação não dispensa o
locatário, nas hipóteses de prorrogação de contrato por prazo indeterminado, do
dever de observar o valor reajustado do aluguel. Isso porque a razão de ser da
revisão de aluguéis é justamente assegurar a manutenção do equilíbrio do
contrato de locação diante das modificações da realidade do mercado, a fim de
evitar injusto prejuízo ou enriquecimento sem causa a ambas as partes. Sendo
assim, ilógico seria admitir que o Poder Judiciário apontasse o novo valor dos
aluguéis para o período de vigência do contrato de locação, mas tal valor fosse
desconsiderado em caso de prorrogação da avença por prazo indeterminado. Desse
modo, uma vez reajustado o valor do aluguel por meio do ajuizamento de ação
revisional, é o valor revisado, e não o originalmente pactuado, que será devido
na hipótese de prorrogação da avença perpetrada nos moldes do previsto no
parágrafo único do art. 56 da Lei n. 8.245/1991. REsp 1.566.231-PE, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 1º/3/2016, DJe 7/3/2016.
DIREITO PROCESSUAL
CIVIL. PROCESSAMENTO DE AÇÃO DE DESPEJO CUMULADA COM COBRANÇA DE ALUGUÉIS NO
CURSO DE RECESSO FORENSE. Nos casos de cumulação da ação de despejo com
cobrança de aluguéis, o prazo recursal fica suspenso durante o recesso forense. O
art. 58, I, da Lei n. 8.245/1991 assim dispõe: "Ressalvados os casos
previstos no parágrafo único do art. 1º, nas ações de despejo, consignação em
pagamento de aluguel e acessório da locação, revisionais de aluguel e
renovatórias de locação, observar-se-á o seguinte: I - os processos tramitam
durante as férias forenses e não se suspendem pela superveniência delas".
Esse dispositivo, ao estatuir hipóteses excepcionais de tramitação de
determinadas ações locatícias durante o recesso e as férias forenses, deve ser
interpretado restritivamente, por se tratar de regra de exceção, na linha de
entendimento doutrinário e jurisprudencial. Precedentes citados: REsp
331.868-RJ, Quinta Turma, DJ 9/10/2006; e REsp 441.907-PR, Quinta Turma, DJ
29/5/2006. REsp 1.414.092-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 1º/3/2016, DJe 9/3/2016.
DIREITO
CIVIL. VEDAÇÃO DE REPASSE AO SACADO DE DESPESAS REFERENTES A TARIFA DE EMISSÃO
DE BOLETO BANCÁRIO. É abusiva a cobrança ou o repasse, pelo atacadista
(beneficiário) ao varejista (pagador), de despesa referente a tarifa de emissão
de boleto bancário. Oportuno destacar que referida tarifa é um item avençado
exclusivamente entre a instituição financeira e o cedente do título, no caso, o
fornecedor, com a finalidade de remunerar o serviço de cobrança utilizado, que
faz uso da rede bancária como mecanismo de arrecadação. Logo, considerando-se
que referida tarifa é fruto de negociação entre o cedente
(fornecedor/atacadista) e o banco, não se pode perder de vista que a discussão
aqui travada encontra-se no âmbito específico da atividade bancária, matéria
que, nos termos da Lei n. 4.595/1964, rege-se pelas disposições do Conselho
Monetário Nacional (CMN) e do Banco Central do Brasil (BC). Nesse contexto, foi
editada a Resolução n. 3.919/2010, que, ao consolidar as normas sobre cobrança
de tarifas pela prestação de serviços por parte das instituições financeiras,
estabeleceu: "Art. 1º A cobrança de remuneração pela prestação de serviços
por parte das instituições financeiras e demais instituições autorizadas a
funcionar pelo Banco Central do Brasil, conceituada como tarifa para fins desta
resolução, deve estar prevista no contrato firmado entre a instituição e o
cliente ou ter sido o respectivo serviço previamente autorizado ou solicitado
pelo cliente ou pelo usuário. § 1º Para efeito desta resolução: I -
considera-se cliente a pessoa que possui vínculo negocial não esporádico com a
instituição, decorrente de contrato de depósitos, de operação de crédito ou de
arrendamento mercantil, de prestação de serviços ou de aplicação financeira;
[...] § 2º É vedada a realização de cobranças na forma de tarifas ou de
ressarcimento de despesas: I - em contas à ordem do Poder Judiciário e para a
manutenção de depósitos em consignação de pagamento de que trata a Lei nº
8.951, de 13 de dezembro de 1994; e II - do sacado , em decorrência da emissão
de boletos ou faturas de cobrança, carnês e assemelhados". Além disso,
convém consignar que, nos termos da jurisprudência desta Corte, desde
30/4/2008, por força da Resolução n. 3.518/2007 do CMN, é vedada a cobrança de
referida tarifa (REsp 1.255.573-RS, Segunda Seção, DJe 24/10/2013). Nesse
contexto, não se afigura razoável o repasse da cobrança de tarifa que, por
força de Resoluções do CMN, é considerada ilegal e cuja pactuação não foi
negociada com o sacado. Por fim, o argumento de que o reconhecimento da
abusividade do repasse do pagamento das tarifas de emissão dos boletos aos
varejistas fere os princípios da liberdade de contratar, da probidade e da
boa-fé não resiste à análise sistemática do tema. Isso porque a matéria ora
enfrentada está inserida também no âmbito do sistema financeiro, especialmente
no que tange à atividade de intermediação financeira, de modo que a liberdade
de contratar encontra limites que se operam em prol da higidez e da
estabilidade de todo o sistema. REsp 1.568.940-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 1º/3/2016, DJe 7/3/2016.
DIREITO
CIVIL. POSSIBILIDADE DE O DEPOSITÁRIO JUDICIAL EXERCER DIREITO DE RETENÇÃO. O
particular que aceita exercer o múnus público de depositário judicial tem o
direito de reter o depósito até que sejam ressarcidas as despesas com
armazenagem e conservação do bem guardado e pagos os seus honorários.Não há dúvida de que
a pessoa física ou jurídica que aceita o encargo de se tornar depositária de
coisa ou bem apreendido em juízo tem o direito de ser ressarcida das despesas
que efetuou, além de perceber uma remuneração pelo exercício do encargo público
(honorários), nos precisos termos do art. 149 do CPC. Ademais, não há vedação à
aplicação do direito de retenção previsto no art. 644 do CC também aos
depósitos judiciais. Além disso, não obstante decorrer de ordem judiciária, é
importante relembrar que o depositário deve anuir expressamente à nomeação ou,
querendo, recusar o múnus (Súmula n. 319 do STJ: "O encargo de depositário
de bens penhorados pode ser expressamente recusado") ou, para resguardar
seu direito, requerer que lhe seja dada caução. Relembre-se que toda execução
corre por conta do exequente. Aliás, como regra geral, o CPC estabelece que
cabe às partes "prover as despesas dos atos que realizam ou requerem no
processo, antecipando-lhes o pagamento desde o início até sentença final"
(art. 19), bem como daqueles determinados pelo juízo (art. 19, § 2º). Nessa
linha, não há dúvida alguma de que o particular que aceita exercer o múnus
público de depositário judicial tem direito à remuneração pelo seu trabalho e
ao ressarcimento das despesas que precisou efetuar para a guarda e conservação.
Desse modo, quando não for prestada caução nem forem adiantadas quaisquer
despesas, o depositário tem direito de reter parte do produto enquanto não for
ressarcido, pois todas as regras acima devem ser analisadas em conjunto.REsp 1.300.584-MT, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 3/3/2016, DJe 9/3/2016.
DIREITO
DO CONSUMIDOR. NULIDADE DE CLÁUSULA DE RENÚNCIA À ENTREVISTA QUALIFICADA PARA
CONTRATAR PLANO DE SAÚDE. É nula a cláusula inserta por operadora de plano
privado de assistência à saúde em formulário de Declaração de Doenças ou Lesões
Preexistentes (Declaração de Saúde) prevendo a renúncia pelo consumidor
contratante à entrevista qualificada orientada por um médico, seguida apenas de
espaço para aposição de assinatura, sem qualquer menção ao fato de tal
entrevista se tratar de faculdade do beneficiário. Isso decorre da interpretação
e aplicação de normas do CDC e dos regramentos específicos sobre o
preenchimento da Declaração de Saúde editados pelo Conselho de Saúde
Suplementar (CONSU) da Agência Nacional de Saúde (ANS). Saliente-se que a
transparência e a informação são deveres dos prestadores de serviços e
constituem direito do consumidor de ter pleno conhecimento acerca do produto ou
serviço que está adquirindo. É o que dispõe o CDC em seus arts. 4º e 6º, os
quais devem ser analisados conjuntamente com a cláusula geral da boa-fé (art.
51). Ademais, não há manifestação de vontade livre e consciente se o
interessado não detém as informações necessárias para formar seu convencimento.
Transportando esse entendimento para o caso em análise, observe-se que a
seguradora deve: a) esclarecer o pretenso segurado acerca do que consiste uma
declaração de doenças e lesões preexistentes e das consequências do incorreto
preenchimento dos dados ou de eventuais equívocos nas respostas às indagações
ali formuladas; e b) esclarecer que, no caso de o segurado ter dúvida acerca da
alguma questão, teria direito à orientação de um médico durante o preenchimento
do documento, oportunidade em que o profissional de saúde iria elucidar o que
estava sendo indagado, por exemplo, os termos técnicos para definir eventuais
doenças e/ou lesões que o segurado ou parente pudessem ter sofrido antes
daquela data. REsp 1.554.448-PE, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 18/2/2016, DJe 26/2/2016.
DIREITO
CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. MIGRAÇÃO DE PLANO DE SAÚDE COLETIVO EMPRESARIAL PARA
PLANO INDIVIDUAL OU FAMILIAR. A migração de beneficiário de plano de saúde
coletivo empresarial extinto para plano individual ou familiar não enseja a
manutenção dos valores das mensalidades previstos no plano primitivo. Os planos de saúde
variam segundo o regime e o tipo de contratação. Assim, consoante o art. 16,
VII, da Lei n. 9.656/1998, há três modalidades: (i) individual ou familiar,
(ii) coletivo empresarial e (iii) coletivo por adesão. O plano de saúde
individual é aquele em que a pessoa física contrata diretamente com a operadora
ou por intermédio de um corretor autorizado. A vinculação de beneficiários é
livre, não havendo restrições relacionadas ao emprego ou à profissão do usuário
em potencial (art. 3º da RN n. 195/2009 da ANS). Já o plano de saúde coletivo é
aquele contratado por uma empresa, conselho, sindicato ou associação junto à
operadora de planos de saúde para oferecer assistência médica e/ou odontológica
às pessoas vinculadas às mencionadas entidades, bem como a seus dependentes.
Como visto, são dois os regimes de contratação de planos de saúde coletivos: o
coletivo empresarial, o qual garante a assistência à saúde dos funcionários da
empresário contratante em razão do vínculo empregatício ou estatutário (art. 5º
da RN nº 195/2009 da ANS), e o coletivo por adesão, contratado por pessoas
jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial, como conselhos,
sindicatos, cooperativas e associações profissionais (art. 9º da RN nº 195/2009
da ANS). Quanto à formação de preços dos serviços de saúde suplementar e ao
reajuste das mensalidades, o cálculo difere entre as três modalidades de plano
de saúde. Com efeito, no plano coletivo empresarial, o empresário ou o órgão
público tem condições de apurar, na fase pré-contratual, qual é a massa de
usuários que será coberta, pois dispõe de dados dos empregados ou servidores,
como a idade e a condição médica do grupo. Diante disso, considerando-se a
atuária mais precisa, pode ser oferecida uma mensalidade inferior àquela
praticada aos planos individuais. Ademais, ao se constatar, na execução
contínua do contrato, um desequilíbrio econômico-financeiro devido à alta
sinistralidade da massa e à inflação acumulada no período, pode a operadora, em
livre negociação com a estipulante, pactuar um reajuste que viabilize a
manutenção dos serviços de saúde suplementar. Em outras palavras, o reajuste
anual nesse tipo de contratação é apenas acompanhado pela ANS, para fins de
monitoramento da evolução dos preços e de prevenção de práticas comerciais
abusivas, não necessitando, todavia, de sua prévia autorização. Assim, não
havendo mais interesse na prestação dos serviços por qualquer das partes, os
contratos de planos privados de assistência à saúde coletivos podem ser
rescindidos imotivadamente após a vigência do período de 12 (doze) meses e
mediante prévia notificação da outra parte com antecedência mínima de 60 (sessenta)
dias (art. 17, parágrafo único, da RN n. 195/2009 da ANS). Por sua vez, no
plano de saúde individual ou familiar, não existe livre negociação de preço
sobre a mensalidade que será paga diretamente pelo beneficiário, visto que os
valores praticados devem ser aqueles compatíveis com o mercado e previamente
aprovados pela ANS, mediante notas técnicas, devendo ser cobrados
indistintamente de todos que contratem aquela cobertura específica no mesmo
período, segundo a faixa etária de cada um. Nessa modalidade, o preço e os
reajustes anuais são vinculados à prévia autorização da ANS, não guardando o
índice de reajuste correlação com a sinistralidade do plano de saúde em si, mas
com outros parâmetros adotados em metodologia particular. Para a hipótese de rescisão
de contrato de plano de saúde coletivo empresarial, a especificação da migração
ou da portabilidade de carências foi feita pela Res. CONSU n. 19/1999, que
dispôs no seu art. 1º que "As operadoras de planos ou seguros de
assistência à saúde, que administram ou operam planos coletivos empresariais ou
por adesão para empresas que concedem esse benefício a seus empregados, ou
ex-empregados, deverão disponibilizar plano ou seguro de assistência à saúde na
modalidade individual ou familiar ao universo de beneficiários, no caso de
cancelamento desse benefício, sem necessidade de cumprimento de novos prazos de
carência". E no seu art. 4º: "Aplicam-se as disposições desta
Resolução aos contratos firmados durante à vigência da Lei nº 9.656/98 que estiverem
ou forem adaptados à legislação". Verifica-se, desse modo, que a RN n.
186/2009 e a RN n. 254/2011 da ANS não se aplicam aos planos coletivos
empresariais, regidos pela Resolução CONSU n. 19/1999, mas incidem apenas nos
planos coletivos por adesão ou nos individuais. Ademais, da análise das normas,
depreende-se que em momento algum foi assegurada a permanência dos mesmos
valores de mensalidade praticados no plano coletivo empresarial rescindido no
plano individual oferecido em substituição. E nem poderia, dada a formação
distinta de preços dos planos coletivos empresariais e dos planos individuais,
a possibilitar que os valores dos primeiros sejam inferiores aos estipulados
para os segundos. As mensalidades cobradas devem guardar relação com os
respectivos riscos gerados ao grupo segurado, sob pena de prejuízos a toda a
sociedade por inviabilização do mercado de saúde suplementar, porquanto, a
médio e longo prazos, as operadoras entrariam em estado de insolvência. Cabe
assinalar que, mesmo nas hipóteses de adaptação e de migração de contratos
antigos, ocorreram aumentos nas mensalidades, como se extrai dos arts. 8º e 18
da RN n. 254/2011 da ANS. Por seu turno, na portabilidade de carências, deve-se
sempre encontrar um tipo compatível para transferência, com equivalência de
preços, entre outros requisitos, o que não se dá entre os planos do regime
coletivo empresarial e os do regime individual ou familiar. Logo, não há falar
em manutenção do mesmo valor das mensalidades aos beneficiários que migram do
plano coletivo empresarial para o plano individual, haja vista as
peculiaridades de cada regime e tipo contratual (atuária e massa de
beneficiários), que geram preços diferenciados. O que deve ser evitado é a
onerosidade excessiva. Por isso é que o valor de mercado é empregado como
referência, de forma a prevenir eventual abusividade. Precedente citado: REsp
n. 1.119.370-PE, Terceira Turma, DJe 17/12/2010. REsp 1.471.569-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 1º/3/2016, DJe 7/3/2016.
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.
LEGITIMIDADE DA VIÚVA PARA IMPUGNAR AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE POST
MORTEM. Mesmo nas hipóteses em que
não ostente a condição de herdeira, a viúva poderá impugnar ação de
investigação de paternidade post
mortem, devendo
receber o processo no estado em que este se encontra. Em
princípio, a ação de investigação de paternidade será proposta em face do
suposto pai ou suposta mãe, diante do seu caráter pessoal. Desse modo, falecido
o suposto pai, a ação deverá ser proposta contra os herdeiros do investigado.
Nesse contexto, na hipótese de a viúva não ser herdeira, ela não ostentará, em
tese, a condição de parte ou litisconsorte necessária em ação de investigação
de paternidade. Assim, a relação processual estará, em regra, completa com a
citação do investigado ou de todos os seus herdeiros, não havendo nulidade pela
não inclusão no polo passivo de viúva não herdeira. Ocorre que o art. 365 do
CC/1916, em dispositivo reproduzido no art. 1.615 do Código em vigor,
estabelece: "qualquer pessoa, que justo interesse tenha, pode contestar a
ação de investigação da paternidade ou maternidade". Por conseguinte, o
interesse em contestar não é privativo dos litisconsortes necessários.
Esclareça-se, a propósito, que a doutrina - seja sob a égide do Código de 1916,
seja do atual - orienta-se no sentido de que o "justo interesse" pode
ser de ordem econômica ou moral. De igual modo já decidiu o STF, em julgado no
qual foi reconhecida a legitimidade da viúva do alegado pai para contestar ação
de investigação de paternidade em hipótese em que não havia petição de herança
(RE 21.182-SE, Primeira Turma, julgado em 29/4/1954). Desta feita, o interesse
puramente moral da viúva do suposto pai, tendo em conta os vínculos familiares
e a defesa do casal que formou com o falecido, compreende-se no conceito de
"justo interesse" para contestar a ação de investigação de
paternidade, nos termos do art. 365 do CC/1916 e do art. 1.615 do CC/2002. Não
sendo herdeira, deve ela, todavia, receber o processo no estado em que este se
encontrar, uma vez que não ostenta a condição de litisconsorte passiva
necessária. REsp
1.466.423-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016,
DJe 2/3/2016.
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.
ILEGITIMIDADE DA VIÚVA MEEIRA PARA FIGURAR NO POLO PASSIVO DE AÇÃO DE PETIÇÃO
DE HERANÇA. A
viúva meeira que não ostente a condição de herdeira é parte ilegítima para
figurar no polo passivo de ação de petição de herança na qual não tenha sido
questionada a meação, ainda que os bens integrantes de sua fração se encontrem
em condomínio pro
indiviso com
os bens pertencentes ao quinhão hereditário. Isso
porque eventual procedência da ação de petição de herança em nada refletirá na
esfera de direitos da viúva meeira, tendo em vista que não será possível
subtrair nenhuma fração de sua meação, que permanecerá invariável, motivo pela
qual não deve ser qualificada como litisconsorte passiva necessária (REsp
331.781-MG, Terceira Turma, DJ 19/4/2004). Deve-se ressaltar, ainda, a natureza
universal da ação de petição de herança, na qual, segundo esclarece entendimento
doutrinário, não ocorre a devolução de coisas destacadas, mas do patrimônio
hereditário: por inteiro, caso o autor seja herdeiro de uma classe mais
privilegiada; ou de quota-parte, caso seja herdeiro de mesma classe de quem
recebeu a herança (REsp 1.244.118-SC, Terceira Turma, DJe 28/10/2013). Desse
modo, o autor terá o reconhecimento de seu direito sucessório e o recebimento
de sua quota-parte, e não de bens singularmente considerados, motivo pelo qual
não haverá alteração na situação fática dos bens, que permanecerão em
condomínio pro indiviso.
Assim, caso não se questione a fração atribuída à meeira, eventual procedência
do pedido em nada a alterará. Ressalte-se que diversa seria a situação se os
bens houvessem sido repartidos entre meeira e herdeiros de forma desigual, e o
autor da ação se insurgisse contra a avaliação e especificação dos bens
atribuídos à meeira, alegando prejuízo à metade destinada aos herdeiros. REsp
1.500.756-GO, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/2/2016,
DJe 2/3/2016.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. APLICAÇÃO DA
MULTA POR ATO ATENTATÓRIO À DIGNIDADE DA JUSTIÇA (ART. 600, III, DO CPC/1973). A multa por ato atentatório
à dignidade da Justiça previsto no art. 600, III, do CPC/1973 constitui punição
cuja aplicabilidade restringe-se aos atos do executado em procedimento
executivo. Infere-se
do art. 600, III, do CPC/1973 que o ato atentatório à dignidade da Justiça se
restringe ao processo de execução e que a conduta de deslealdade processual
caracteriza-se somente como aquela praticada pelo executado. Isso porque o
código se utiliza da expressão "ato do executado", além do fato de as
hipóteses previstas nos incisos I, II e IV do mesmo art. 600 se referirem a
circunstâncias inerentes ao procedimento executivo. Ademais, apesar de o inciso
III do citado dispositivo legal tratar da situação de resistência injustificada
às ordens judiciais, podendo levar à conclusão de que seria aplicável a
qualquer "tipo de processo", inclusive o de conhecimento, isso não se
revela como possível. A razão é bem simples: a cabeça do dispositivo, conforme
já destacado, faz alusão expressa a "atos do executado", e somente dele.
Acrescente-se que, para ato atentatório à dignidade da Justiça, o art. 601 do
CPC/1973 regula a sanção no patamar de até 20% (vinte por
cento) sobre o valor atualizado da execução, a ser revertido em proveito do
exequente. Mais uma vez, fica claro que a norma aqui discutida tem o seu âmbito
de aplicação limitado às execuções, pois, repita-se, até o valor da multa tem
como parâmetro o montante cobrado na execução, a ser revertido em proveito do
credor/exequente. Acerca da multa, entendimento doutrinário explicita que
"seu caráter é eminentemente punitivo, e não indenizatório, razão pela
qual, na fixação do valor, o juiz levará em conta, não necessariamente a
existência ou o montante do dano que possa ter sofrido o credor, mas sim a
gravidade da culpa ou do dolo com que agiu o devedor". Nesse viés, o STJ
apresenta entendimento sobre a utilização do método restritivo de interpretação
das normas que estabelecem penalidades, e a aplicação da interpretação
restritiva não se refere apenas à parte que pode praticar o ato (no caso, o
executado), mas também à "espécie de processo" no qual há resistência
ao cumprimento da ordem judicial. Não caberia, portanto, ao intérprete querer
estender a incidência do art. 600 do CPC/1973 às ações do
processo de conhecimento, cautelar e aos procedimentos especiais. Assim, a
regra é taxativa. Precedentes citados: REsp 758.270-RS, Primeira Turma, julgado
em 8/5/2007, DJ 04/6/2007; REsp 1459154-RJ, Terceira Turma, julgado em
4/9/2014, DJe 11/9/2014. REsp 1.231.981/RS, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, julgado em 15/12/2015, DJe 3/3/2016.
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