domingo, 26 de fevereiro de 2012

REVISTA SÃO PAULO DA FOLHA DE SÃO PAULO, REPORTAGEM DE 26 DE FEVEREIRO DE 2012

MAIS PESSOAS SE CASAM PELA SEGUNDA VEZ EM SÃO PAULO.

REVISTA SÃO PAULO DA FOLHA DE SP. 26.02.2012

ESPECIAL CASAMENTOS

ETERNO ENQUANTO DURE.

Sobe o número de divorciados e viúvos que secasam pela segunda (ou terceira, quarta) vez

GUILHERME GENESTRETI

Casar está em alta em São Paulo. Mesmo com as uniões consensuais abocanhando espaço entre os casais, os paulistanos não arredam o pé de formalizar o vínculo: de 2000 para 2010, aumentaram em 41% os registros de casamento civil na capital, segundo o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Mas cada vez mais são divorciados e viúvos que trocam as alianças. Se em 2003 a união de solteiros somava na cidade 84,5% do total, em 2010 elas caíram para 79,8%, diante de uma fatia de 20,1% de noivos que já passaram das primeiras núpcias.

"No passado o casamento era encarado como algo único na vida de uma pessoa. Hoje, é visto como um evento que se repete quantas vezes a pessoa desejar", diz a antropóloga Joice Melo Vieira, do Departamento de Demografia da Unicamp.

O aumento do número de casamentos também é reflexo da maior estabilidade econômica da última década, segundo a demógrafa Glaucia Marcondes, do Núcleo de Estudos de População da mesma universidade. "Permite que as pessoas façam planos de formar uma família e que planejem um casamento com tudo o que o ritual pede: montar casa, vestido, festa", diz.

A média de uniões informais vem crescendo no Estado, mas ainda está abaixo do índice nacional: 29,5% contra 36,4%. Para Cláudio Dutra, pesquisador do IBGE, a maior formalização diz respeito ao maior acesso à Justiça em São Paulo. "Isso acaba facilitando o casamento e também o divórcio, abrindo caminho para que mais pessoas se recasem."

Em 2010, houve 33% mais divórcios do que em 2000. Para Glaucia, as pessoas viram que, "se a relação não dá certo, uma boa separação pode ser melhor do que um péssimo casamento". "Ser divorciado não é carma para mais ninguém", completa Dutra.

'Casar está mais fácil'
A administradora de empresas Maria Rita Alexander, 42, está em seu terceiro casamento -todos formalizados em cartório e comemorados com festa. "Casar é importante. Acho que se as pessoas estão juntas elas têm de formalizar para ficar claro para os amigos, para a família e para elas mesmas", diz. "Com o casamento, fica a ideia de que é pra valer, que é pra sempre."

O primeiro matrimônio, aos 21, durou nove anos. "Minha dedicação profissional atrapalhou a relação", conta. O segundo, aos 32, terminou com três anos. "Não tinha concorrência com o trabalho porque ele já conhecia meus horários loucos, mas ele queria filhos; eu, não."

Maria Rita se casou com o atual marido em outubro de 2011, numa cerimônia ecumênica, mas o casal já namorava havia sete anos. "É a minha paixão, ele respeita minha individualidade e não quer ter filhos." Os dois moram em apartamentos diferentes, mas se encontram todos os dias e passam os fins de semana juntos, numa casa no interior de São Paulo. "Acho que o fato de o divórcio estar menos complicado gerou uma certa comodidade. Casar está fácil, se divorciar também", afirma.

É a mesma opinião do advogado Flávio Tartuce, diretor do Instituto Brasileiro de Direito de Família de São Paulo. "Com mais facilidade para o divórcio, aumentou também o número de recasamentos", diz. Até 2010, a separação prévia era requisito para a concessão do divórcio. No ano passado, uma emenda constitucional suprimiu essa exigência e permitiu o divórcio direto. "Ele pode ser feito quase que automaticamente, o que fez alguns críticos afirmarem que se estava banalizando o casamento", diz Joice Melo Vieira, da Unicamp.

Evolução das uniões

Casamentos civis sobem mais que divórcios na capital**

CASAMENTOS CIVIS

2000: 44.584
2010: 62.989
Aumento de 41%

DIVÓRCIOS

2000: 10.020
2010: 13.318
Aumento de 33%

SEPARAÇÕES
2000: 6.269
2010: 2.844
Diminuição de 54%

** número de registros coletados nos cartórios paulistanos pelo IBGE

Tipo de união conjugal
Em dez anos, subiu o percentual de uniões consensuais*

1. Total de casados no civil e religioso:
2000: 57,2% do total
2010: 50,5% do total

2. Total de casados só no civil:
2000: 17,5% do total
2010: 18,8% do total

3. Total de casados só no religioso:
2000: 1,19% do total
2010: 1% do total

4. Total de uniões consensuais:
2000: 23,9% do total
2010: 29,5% do total

Estado civil
Divorciados já são mais do que separados

Casados
2000: 41,20%
2010: 38,9%

Separados/desquitados
2000: 2,67%
2010: 2,2%

Divorciados
2000: 2,24%
2010: 3,9%

Viúvos
2000: 5%
2010: 5,3%

Solteiros
2000: 48,89%
2010: 49,5%

Em 2010, a cidade de SP tinha 0,07% de uniões de pessoas do mesmo sexo; foi o primeiro ano que o dado foi coletado pelo IBGE

IDADE DOS NOIVOS EM 2010
59,93%
tinham entre 25 e 40 anos
16,63%
tinham mais do que 40 anos
23,4%
tinham até 25 anos

IDADE DAS NOIVAS EM 2010
51,94%
tinham entre 25 e 40 anos
11,58%
tinham mais do que 40 anos
36,39%
tinham até 25 anos

* Dados para o Estado de SP Fontes: Estatísticas do Registro Civil, Censo 2000 e Censo 2010, do IBGE

Mais de uma vez

Total de recasamentos subiu 60% na capital

HOMENS
2003: 5.751
2010: 8.877
Aumento de 54%

MULHERES
2003: 3.828
2010: 6.494
Aumento de 69,6%

TOTAL*

2003: 7.907
2010: 12.689
Aumento de 60,4%

Em 2003, 15,47% dos casamentos tinham pelo menos um dos parceiros divorciados ou viúvos

Em 2010, 20,14% dos casamentos tinham pelo menos um dos parceiros divorciados ou viúvos

* uniões em que pelo menos um dos cônjuges já foi casado anteriormente

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