quarta-feira, 15 de outubro de 2014

DIREITO DE FAMÍLIA. NOVO VOCABULÁRIO. POR ZENO VELOSO.



DIREITO DE FAMÍLIA - NOVO VOCABULÁRIO

Por Zeno Veloso.

Publicado no Jornal O Liberal. Belém, Pará.
              
Enviado por meu amigo Lourival Serejo, de São Luís, recebi e estou lendo o seu precioso livro denominado "Novos Diálogos do Direito de Família". O autor é desembargador do Tribunal de Justiça do  Maranhão. Ocupa a cadeira n° 35 na Academia Maranhense de Letras. É sócio fundador e um dos mais eminentes membros do Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM. Além de várias obras jurídicas, escreveu livros de crônicas. Neste campo, é um dos mais festejados cronistas jurídicos do país. Já esteve em Belém mais de uma vez. Numa delas, quis visitar e encantou-se com a livraria-sebo-antiquário de Denis Cavalcante, foi recebido amavelmente pelo dono e saiu carregando vários  livros. 

A obra que recebi é dividida em três partes: I - Doutrina; II - Direito de Família Concreto; e III - Crônicas da Família Contemporânea. Uma dessas crônicas é denominada "Animais Domésticos e o afeto familiar", tema que já abordei nesta coluna. Em Portugal, recentemente, juntamente com o professor José Fernando Simão, tive o prazer de almoçar com o jurista Fernando Araújo, que me autografou seu livro pioneiro, chamado "A hora dos direitos dos animais" (Almedina, Coimbra, 2003). Trouxe um exemplar do mesmo para Débora Soares, militante na defesa e proteção dos bichos, especialmente gatos, cães, cavalos, e aproveito para homenagear Brígida Gonçalves e Flávia Danin, que também lutam muito pelos animais. Aqui em minha casa, por sinal, quem manda e desmanda é o Ramón, um simpático cãozinho da raça dachshund (também conhecido como cofap ou salsicha), que já é idoso, completou 12 anos, mas ainda se encanta com as cadelinhas que encontra em seus passeios matinais." Velho é o mundo", ele parece dizer.

Voltando ao livro de Serejo, uma das melhores crônicas do mesmo, oferecida para nosso comum amigo Rodrigo da Cunha Pereira, chama-se "Novo Vocabulário do Direito de Família", explicando o autor que, hoje, há uma nova gramática e um novo vocabulário do Direito de Família, com novos adjetivos, novos substantivos, novos plurais, novos coletivos, novas locuções e novos verbos,  e aponta a sequência do alfabeto deste novo Direito de Família. Vou transcrever a saborosa matéria: "a letra A é da palavra mais forte que descobrimos: Afeto. Seguem-se: Adoção por homossexuais; Alimentos gravídicos; Amor responsável; e Alienação parental. A letra D remete para Desbiologização da paternidade e Direito ao conhecimento da ascendência genética. O E, de evolução, trouxe, para o cenário, o instituto da Entidade familiar, que alberga, em si, todos os grupos de pessoas e parentes unidas pela solidariedade e pela fraternidade. A letra F não é mais só da família singular, matrimonializada, mas de todas as famílias: Famílias reconstituídas; Famílias simultâneas; Famílias paralelas; Famílias monoparentais, e Famílias pluriparentais. Essa letra, também, inaugura a Função social da família e a Fecundação artificial post mortem.G orienta para a descoberta da Guarda compartilhada, em defesa dos interesses da criança e do adolescente. O H não abriga mais o horror à diversidade de gênero. Por isso, hoje, cuida da Homoafetividade e da Homoparentalidade, em processo constante de afirmação contra a homofobia. A letra I tornou-se mais inovadora, com as palavras Infidelidade virtual; Indenização na separação; e Investigação de paternidade socioafetiva. Sob seu signo, criou-se, também, uma confraria da renovação do Direito de Família, formada pelos Ibedermanos. A letra M não é mais só da maternidade, serve também para lembrar Mediação e Mudança de regime de bens. O P tornou-se mais grandioso ao acolher novidades como Parto anônimo; Paternidade socioafetiva; Paternidade alimentar; Parentalidade socioafetiva; e Poder familiar. A letra R descobriu a Repersonalização da família; a Reprodução assistida e a Redesignação sexual. O T inova com a figura do Testamento vital. A letra U gerou a palavra mágica dos novos tempos: união estável. Com ela vieram: União estável homoafetiva e Uniões afetivas (lato sensu)."

P.S.1 Com o jovem professor e escritor Flávio Tartuce, em Lisboa, estive na Livraria Castro e Silva, situada em frente à famosa Bertrand, no Chiado, e comprei um precioso livrinho - verdadeira raridade -, editado no começo do século passado, os "Sonetos", de Camões, do qual, já se afirmou, "é a maior figura literária da língua portuguesa, e uma das maiores de todas as literaturas de todos os tempos". Além da epopeia "Os Lusiadas", o grande poeta deixou uma obra romântica maravilhosa. Vejam que beleza este verso: "Amor é um fogo que arde sem se ver, É ferida que dói e não se sente, É um contentamento descontente, É dor que desatina sem doer".

P.S.2 Viva Nossa Senhora de Nazaré, no seu Santo Círio.

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