Vidas
interrompidas
Jones
Figueirêdo Alves.
A
família brasileira perdeu, nessa quarta-feira (+ 13.08.2014), um dos seus
melhores filhos, figura exemplar de pai provedor/diligente e de modelo afetivo
de esposo. Um referencial de extrema força simbólica.
A
prematura morte de Eduardo Henrique Accioly Campos rompe, tragicamente, um
paradigma da ordem natural das coisas, ou seja: são os filhos que enterram seus
pais, cônjuges sepultam seus pares.
Daí,
orfandade e viuvez são vocábulos correntes, ainda que jurídicos, em definições
intrínsecas de realidades específicas e pontuais.
Todavia,
não há vocábulo algum que defina, ou possa vir a definir, com devida precisão,
sob a força cogente e significativa da palavra, uma situação de luto inverso, a
da perda de um filho. Situação
indizível, por natureza, quedada inerte por falta de linguagem. Dor inominada -
como também não se nominam os sonhos - mais se vivencia do que se explica.
Eduardo
era o protótipo do Filho Arrimo, determinante e fundamental, filho guardião de
sua nação materna, que marianamente está agora enlutada. Dor mariana sofrida
por todos.
O
desmedido zelo por suas responsabilidades públicas sempre importou, como dogma,
em abrigo e sustentação de seus ideais, a partir do seu sorriso confiante, da
sua relação dialogal substancialmente aglutinante e de sua ilimitada determinação
de luta. Para corrigir rumos, ensinar futuro e confiança. Transformador e
protetivo.
Nenhum,
vocábulo suficiente, portanto. Nada senão possível dizer tratar-se de uma vida
interrompida, que subtrai da ordem da vida a sua própria ordem, em dramática
anti-relação com a concretude do natural.
Perda
desconforme, de tamanha dor, daquele que parte antes, em partida que tira,
estranhamente, a vida do seu lugar, por uma caminhada inconclusa de horizontes.
Vida
interrompida que, em instante súbito, desaparta o que viria existir,
contrariando o ritmo essencial e ingente, quando a vida está à frente.
No
significante de um luto diferente, sem a linguagem exata a tanto poder expressá-lo,
a fatídica realidade convoca refletir para além da sua família nuclear, da amada
esposa Renata e dos cinco queridos filhos, da genitora e do irmão, de sua
família expandida e do amplo circulo afetivo dos amigos.
Tem-se
um luto nacional, de vasta comoção pública, quando a nação inteira perde aquele
que, na condição de seu filho honrado, expoente e promissor, colocava-se em
prontitudes de seguramente ampará-la. Em assunção protetiva, como cuidador
nato. Sob os auspícios de uma consagradora devoção filial, para a construção de
um país melhor, por ele sonhado e nunca desistido.
No
ponto, recordo seu maior axioma, por ele sempre afirmado, em profundo estado de
oração:
- “É
urgente e preciso colocar mais vida na vida de todos”.
De
repente, a morte. Mas a morte repentina, apenas pôde lhe tirar senão a vida. É
uma morte que não provoca morte. Tudo que ele fez ter sido no protagonismo de
seus atos, para a história de Pernambuco e do seu país, continua indelével,
permanecente, intacto e monolítico, como a sólida unidade de uma grande família
que mais se assume como nação brasileira. Forte e imensurável na alma de todas
as gentes, do povo a quem sempre amou, dignificou e serviu como filho devotado.
Ele que
significou, antes de mais, família, na sua mais que perfeita concepção de
solidariedade e amor prestativo, faz de todos os brasileiros uma família unida
no sentimento da perda irreparável.
Não se
afasta a dor da perda. Servirá, sim, a nutrir plenamente uma janela agora aberta
ao infinito, colocando a sua memória como guia e energia propulsora. A morte é
vencida, afinal, quando transfigurada pela fé e esperança.
Será
permitido saber, então, por dicção da verdade absoluta, que o seu legado será,
de logo, uma vida pulsante.
“O
tempo é quando”, reza o poema.
JONES
FIGUEIRÊDO ALVES – O autor do artigo é
Desembargador Decano do Tribunal de Justiça de Pernambuco. Presidiu o Tribunal
de Justiça de Pernambuco, no biênio 2008-2010, durante o primeiro mandato de
Eduardo Henrique Aciolly Campos como Governador do Estado de Pernambuco.
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