DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DE AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA. A
ação de petição de herança relacionada a inventário concluído, inclusive com
trânsito em julgado da sentença homologatória da partilha, deve ser julgada, não
no juízo do inventário, mas sim no da vara de família, na hipótese em que
tramite, neste juízo, ação de investigação de paternidade que, além de ter sido
ajuizada em data anterior à propositura da ação de petição de herança,
encontre-se pendente de julgamento. De fato, registre-se que o art. 96 do CPC determina que "o foro do
domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a
partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade e todas
as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no
estrangeiro". Entretanto, nos termos da jurisprudência do STJ, a regra do
art. 96 do CPC não incide quando já encerrado o inventário, com trânsito em
julgado da sentença homologatória da partilha (CC 51.061-GO, Segunda Seção, DJ
de 19/12/2005). Sendo assim, não há como aplicar o mencionado dispositivo legal
à hipótese em análise com o intuito de firmar, no juízo responsável pela
conclusão do inventário, a competência para o julgamento da ação de petição de herança.
Além disso, esta somente poderá prosperar se o pedido da ação de investigação
de paternidade for julgado procedente, o que demonstra a existência de relação
de dependência lógica entre as referidas demandas. Por efeito, deve-se
reconhecer a existência de conexão entre as ações por prejudicialidade externa
— a solução que se der a uma direciona o resultado da outra — para que elas
sejam reunidas, tramitando conjuntamente no mesmo juízo; não constituindo,
ademais, óbice à prevalência das regras processuais invocadas a existência de
regra de organização judiciária estadual em sentido diverso. CC 124.274-PR, Rel. Min. Raul Araújo, Segunda Seção, julgado em
8/5/2013.
DIREITO DO
CONSUMIDOR. VÍCIO DE QUANTIDADE DE PRODUTO NO CASO DE REDUÇÃO DO VOLUME DE
MERCADORIA. Ainda que haja abatimento no preço do produto, o fornecedor
responderá por vício de quantidade na hipótese em que reduzir o volume da
mercadoria para quantidade diversa da que habitualmente fornecia no mercado,
sem informar na embalagem, de forma clara, precisa e ostensiva, a diminuição do
conteúdo. É direito básico
do consumidor a “informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem” (art. 6º, III, do
CDC). Assim, o direito à informação confere ao consumidor uma escolha
consciente, permitindo que suas expectativas em relação ao produto ou serviço
sejam de fato atingidas, manifestando o que vem sendo denominado de
consentimento informado ou vontade qualificada. Diante disso, o comando legal
somente será efetivamente cumprido quando a informação for prestada de maneira
adequada, assim entendida aquela que se apresenta simultaneamente completa,
gratuita e útil, vedada, no último caso, a diluição da comunicação relevante
pelo uso de informações soltas, redundantes ou destituídas de qualquer
serventia. Além do mais, o dever de informar é considerado um modo de
cooperação, uma necessidade social que se tornou um autêntico ônus pró-ativo
incumbido aos fornecedores (parceiros comerciais, ou não, do consumidor), pondo
fim à antiga e injusta obrigação que o consumidor tinha de se acautelar (caveat
emptor). Além disso, o art. 31 do CDC, que cuida da oferta publicitária,
tem sua origem no princípio da transparência (art. 4º, caput) e é
decorrência do princípio da boa-fé objetiva. Não obstante o amparo legal à
informação e à prevenção de danos ao consumidor, as infrações à relação de
consumo são constantes, porque, para o fornecedor, o lucro gerado pelo dano
poderá ser maior do que o custo com a reparação do prejuízo causado ao consumidor.
Assim, observe-se que o dever de informar não é tratado como mera obrigação
anexa, e sim como dever básico, essencial e intrínseco às relações de consumo,
não podendo afastar a índole enganosa da informação que seja parcialmente falsa
ou omissa a ponto de induzir o consumidor a erro, uma vez que não é válida a
“meia informação” ou a “informação incompleta”. Com efeito, é do vício que
advém a responsabilidade objetiva do fornecedor. Ademais, informação e
confiança entrelaçam-se, pois o consumidor possui conhecimento escasso dos
produtos e serviços oferecidos no mercado. Ainda, ressalte-se que as leis
imperativas protegem a confiança que o consumidor depositou na prestação
contratual, na adequação ao fim que razoavelmente dela se espera e na confiança
depositada na segurança do produto ou do serviço colocado no mercado. Precedentes
citados: REsp 586.316-MG, Segunda Turma, DJe 19⁄3⁄2009; e REsp 1.144.840-SP,
Terceira Turma, DJe 11⁄4⁄2012. REsp 1.364.915-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em
14/5/2013.
DIREITO CIVIL.
LEGITIMIDADE DO ECAD PARA A FIXAÇÃO DO VALOR A SER RECEBIDO A TÍTULO DE
DIREITOS AUTORAIS. O ECAD tem legitimidade para reduzir o valor a ser
recebido, a título de direitos autorais, pelos autores de obras musicais de background
(músicas de fundo), bem como estabelecer, para a remuneração desse
tipo de obra, valor diferente do que o recebido pelos compositores das demais
composições, de forma a corrigir distorções na remuneração pela execução das
diversas obras musicais. Com
efeito, o ECAD é uma associação civil constituída pelas associações de direito
do autor com a finalidade de defesa e cobrança dos direitos autorais, nos
termos do que prevê o art. 99 da Lei 9.610/1998. Vale ressaltar que, com o ato
de filiação, as associações atuam como mandatárias de seus filiados na defesa
dos seus interesses (art. 98), principalmente junto ao ECAD, que tem a competência
para fixar preços, efetuar a cobrança e distribuir os valores referentes aos
direitos autorais. Ademais, apesar de a lei de direitos autorais não fazer
distinção entre os tipos de obras, outorgando-lhes igual proteção, verifica-se
que não há nada que impeça que o critério adotado pelo ECAD para a distribuição
dos valores arrecadados entre os autores leve em consideração o fato de as
músicas de fundo serem obras de menor evidência do que as composições que, por
exemplo, são temas de novelas, de personagens etc. Dessa forma, entende o STJ
que, em se tratando de direito de autor, compete a este a fixação do seu valor,
o que pode ocorrer diretamente ou por intermédio das associações e do próprio
ECAD, que possui métodos próprios para a elaboração dos cálculos diante da
diversidade das obras reproduzidas, segundo critérios eleitos internamente, já
que não há tabela oficial regulamentada por lei ou normas administrativas sobre
o assunto. REsp 1.331.103-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
23/4/2013.
DIREITO CIVIL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA DE SOCIEDADE LIMITADA. Na
hipótese em que tenha sido determinada a desconsideração da personalidade
jurídica de sociedade limitada modesta na qual as únicas sócias sejam mãe e
filha, cada uma com metade das quotas sociais, é possível responsabilizar pelas
dívidas dessa sociedade a sócia que, de acordo com o contrato social, não
exerça funções de gerência ou administração. É certo que, a
despeito da inexistência de qualquer restrição no art. 50 do CC/2002, a
aplicação da desconsideração da personalidade jurídica apenas deve incidir
sobre os bens dos administradores ou sócios que efetivamente contribuíram para
a prática do abuso ou fraude na utilização da pessoa jurídica. Todavia, no caso
de sociedade limitada modesta na qual as únicas sócias sejam mãe e filha, cada
uma com metade das quotas sociais, a titularidade de quotas e a administração
da sociedade se confundem, situação em que as deliberações sociais, na maior
parte das vezes, ocorrem no dia a dia, sob a forma de decisões gerenciais.
Nesse contexto, torna-se difícil apurar a responsabilidade por eventuais atos
abusivos ou fraudulentos. Em hipóteses como essa, a previsão no contrato social
de que as atividades de administração serão realizadas apenas por um dos sócios
não é suficiente para afastar a responsabilidade dos demais. Seria necessária,
para tanto, a comprovação de que um dos sócios estivera completamente
distanciado da administração da sociedade. REsp 1.315.110-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
28/5/2013.
DIREITO CIVIL.
RESPONSABILIDADE CIVIL POR VEICULAÇÃO DE MATÉRIA JORNALÍSTICA. A
entidade responsável por prestar serviços de comunicação não tem o dever de indenizar
pessoa física em razão da publicação de matéria de interesse público em jornal
de grande circulação a qual tenha apontado a existência de investigações
pendentes sobre ilícito supostamente cometido pela referida pessoa, ainda que
posteriormente tenha ocorrido absolvição quanto às acusações, na hipótese em
que a entidade busque fontes fidedignas, ouça as diversas partes interessadas e
afaste quaisquer dúvidas sérias quanto à veracidade do que divulga. De fato, a hipótese descrita apresenta um conflito de
direitos constitucionalmente assegurados: os direitos à liberdade de pensamento
e à sua livre manifestação (art. 5º, IV e IX), ao acesso à informação (art. 5º,
XIV) e à honra (art. 5º, X). Cabe ao aplicador da lei, portanto, exercer função
harmonizadora, buscando um ponto de equilíbrio no qual os direitos conflitantes
possam conviver. Nesse contexto, o direito à liberdade de informação deve
observar o dever de veracidade, bem como o interesse público dos fatos
divulgados. Em outras palavras, pode-se dizer que a honra da pessoa não é
atingida quando são divulgadas informações verdadeiras e fidedignas a seu
respeito e que, outrossim, são de interesse público. Quanto à veracidade do que
noticiado pela imprensa, vale ressaltar que a diligência que se deve exigir na
verificação da informação antes de divulgá-la não pode chegar ao ponto de as
notícias não poderem ser veiculadas até se ter certeza plena e absoluta de sua
veracidade. O processo de divulgação de informações satisfaz o verdadeiro
interesse público, devendo ser célere e eficaz, razão pela qual não se coaduna
com rigorismos próprios de um procedimento judicial, no qual deve haver
cognição plena e exauriente dos fatos analisados. Além disso, deve-se observar
que a responsabilidade da imprensa pelas informações por ela veiculadas é de
caráter subjetivo, não se cogitando da aplicação da teoria do risco ou da
responsabilidade objetiva. Assim, para a responsabilização da imprensa pelos
fatos por ela reportados, não basta a divulgação de informação falsa, exige-se
prova de que o agente divulgador conhecia ou poderia conhecer a falsidade da
informação propalada, o que configuraria abuso do direito de informação. REsp 1.297.567-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
28/5/2013.
DIREITO CIVIL E
PROCESSUAL CIVIL. EFEITOS DA SENTENÇA DE INTERDIÇÃO SOBRE MANDATO JUDICIAL. A
sentença de interdição não tem como efeito automático a extinção do mandato
outorgado pelo interditando ao advogado para sua defesa na demanda, sobretudo
no caso em que o curador nomeado integre o polo ativo da ação de interdição. De fato, o art. 682, II, do CC dispõe que a interdição
do mandante acarreta automaticamente a extinção do mandato, inclusive o
judicial. Contudo, ainda que a norma se aplique indistintamente a todos os
mandatos, faz-se necessária uma interpretação lógico-sistemática do ordenamento
jurídico pátrio, permitindo afastar a sua incidência no caso específico do
mandato outorgado pelo interditando para a sua defesa judicial na própria ação
de interdição. Isso porque, além de o art. 1.182, § 2º, do CPC assegurar o
direito do interditando de constituir advogado para sua defesa na ação de
interdição, o art. 1.184 do mesmo diploma legal deve ser interpretado de modo a
considerar que a sentença de interdição produz efeitos desde logo quanto aos
atos da vida civil, mas não atinge, sob pena de afronta ao direito de defesa do
interditando, os mandatos referentes ao próprio processo. Com efeito, se os
advogados constituídos pelo interditando não pudessem interpor recurso contra a
sentença, haveria evidente prejuízo à defesa. Ressalte-se, ademais, que, nessa
situação, reconhecer a extinção do mandato ensejaria evidente colisão dos
interesses do interditando com os de seu curador. Contudo, a anulação da outorga
do mandato pode ocorrer, desde que, em demanda específica, comprove-se
cabalmente a nulidade pela incapacidade do mandante à época da realização do
negócio jurídico. REsp 1.251.728-PE, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado
em, 14/5/2013.
DIREITO DO
CONSUMIDOR. ABUSIVIDADE DE CLÁUSULA EM CONTRATO DE CONSUMO. É abusiva a
cláusula contratual que atribua exclusivamente ao consumidor em mora a
obrigação de arcar com os honorários advocatícios referentes à cobrança
extrajudicial da dívida, sem exigir do fornecedor a demonstração de que a
contratação de advogado fora efetivamente necessária e de que os serviços
prestados pelo profissional contratado sejam privativos da advocacia. É certo que o art. 395 do CC autoriza o ressarcimento
do valor de honorários decorrentes da contratação de serviços advocatícios
extrajudiciais. Todavia, não se pode perder de vista que, nos
contratos de consumo, além da existência de cláusula expressa para a
responsabilização do consumidor, deve haver reciprocidade, garantindo-se igual
direito ao consumidor na hipótese de inadimplemento do fornecedor. Ademais, deve-se
ressaltar que a liberdade contratual, integrada pela boa-fé objetiva,
acrescenta ao contrato deveres anexos, entre os quais se destaca o ônus do
credor de minorar seu prejuízo mediante soluções amigáveis antes da contratação
de serviço especializado. Assim, o exercício regular do direito de
ressarcimento aos honorários advocatícios depende da demonstração de sua
imprescindibilidade para a solução extrajudicial de impasse entre as partes
contratantes ou para a adoção de medidas preparatórias ao processo judicial,
bem como da prestação efetiva de serviços privativos de advogado. REsp 1.274.629-AP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/5/2013.
DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. DESNECESSIDADE DE AÇÃO AUTÔNOMA PARA A DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA DE SOCIEDADE. O juiz pode determinar, de forma
incidental, na execução singular ou coletiva, a desconsideração da
personalidade jurídica de sociedade. De fato, segundo a jurisprudência do STJ, preenchidos os requisitos
legais, não se exige, para a adoção da medida, a propositura de ação autônoma.
Precedentes citados: REsp 1.096.604-DF, Quarta Turma, DJe 16/10/2012; e REsp
920.602-DF, Terceira Turma, DJe 23/6/2008. REsp 1.326.201-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/5/2013.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E
JULGAR PEDIDO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL HOMOAFETIVA.
Havendo vara privativa para julgamento
de processos de família, essa será competente para processar e julgar pedido de
reconhecimento e dissolução de união estável homoafetiva, independentemente de
eventuais limitações existentes na lei de organização judiciária local.
Ressalte-se, inicialmente, que a plena equiparação das uniões estáveis
homoafetivas às heteroafetivas trouxe, como consequência, a extensão automática
àquelas das prerrogativas já outorgadas aos companheiros dentro de uma união
estável de homem e mulher. Ademais, apesar de a organização judiciária de cada
estado ser afeta ao Judiciário local, a outorga de competências privativas a
determinadas varas impõe a submissão destas às respectivas vinculações legais
estabelecidas no nível federal, para que não se configure ofensa à lógica do
razoável e, em situações como a em análise, ao princípio da igualdade. Assim,
se a prerrogativa de vara privativa é outorgada, para a solução de determinadas
lides, à parcela heterossexual da população brasileira, também o será à fração
homossexual, assexual ou transexual, bem como a todos os demais grupos
representativos de minorias de qualquer natureza que precisem da intervenção do
Poder Judiciário para a solução de demandas similares. REsp 1.291.924-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
28/5/2013.
DIREITO CIVIL.
USUCAPIÃO DE TERRENO QUE A UNIÃO ALEGA SER INTEGRANTE DE FAIXA DE MARINHA. A
alegação da União de que determinada área constitui terreno de marinha, sem que
tenha sido realizado processo demarcatório específico e conclusivo pela
Delegacia de Patrimônio da União, não obsta o reconhecimento de usucapião. A demarcação da faixa de marinha depende de complexo
procedimento administrativo prévio de atribuição do Poder Executivo, com
notificação pessoal de todos os interessados, sempre que identificados pela
União e de domicílio certo, com observância à garantia do contraditório e da
ampla defesa. Tendo-se em conta a complexidade e onerosidade do procedimento
demarcatório, sua realização submete-se a um juízo de oportunidade e
conveniência por parte da Administração Pública. Ocorre que não é razoável que
o jurisdicionado tenha sua pretensão de reconhecimento da usucapião de terreno
que já ocupa com ânimo de dono condicionada à prévia demarcação da faixa de
marinha, fato futuro e sem qualquer previsibilidade de materialização. Assim, é
possível o reconhecimento da usucapião, desde que resguardados expressamente os
interesses da União, admitindo que, caso se apure, no procedimento próprio, que
a área usucapienda se caracteriza como bem público, não haverá prejuízo ao ente
público. Com efeito, a eficácia preclusiva da coisa julgada alcança apenas as
questões passíveis de alegação e efetivamente decididas pelo juízo constantes
do mérito da causa, não podendo, no caso, ser considerada deduzível a matéria,
pois inexistente estudo conclusivo sobre o assunto. REsp 1.090.847-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
23/4/2013
DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS CORREIOS POR EXTRAVIO DE CARTA REGISTRADA. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) deve reparar os danos morais decorrentes de extravio de correspondência registrada. Com efeito, o consumidor que opta por enviar carta registrada tem provável interesse no rastreamento e na efetiva comprovação da entrega da correspondência, por isso paga mais caro pelo serviço. Desse modo, se o consumidor escolhe enviar carta registrada, é dever dos Correios comprovar a entrega da correspondência ou a impossibilidade de fazê-lo, por meio da apresentação ao remetente do aviso de recebimento, de maneira que o simples fato da perda da correspondência, nessa hipótese, acarreta dano moral in re ipsa. REsp 1.097.266-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Raul Araújo, julgado em 2/5/2013.
DIREITO CIVIL.
RESPONSABILIDADE CIVIL DOS CORREIOS POR EXTRAVIO DE CARTA REGISTRADA. A
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) deve reparar os danos morais
decorrentes de extravio de correspondência registrada. Com efeito, o consumidor que opta por enviar carta
registrada tem provável interesse no rastreamento e na efetiva comprovação da entrega
da correspondência, por isso paga mais caro pelo serviço. Desse modo, se o
consumidor escolhe enviar carta registrada, é dever dos Correios comprovar a
entrega da correspondência ou a impossibilidade de fazê-lo, por meio da
apresentação ao remetente do aviso de recebimento, de maneira que o simples
fato da perda da correspondência, nessa hipótese, acarreta dano moral in re
ipsa. REsp 1.097.266-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para
acórdão Min. Raul Araújo, julgado em 2/5/2013.
DIREITO CIVIL. LIMITES À UTILIZAÇÃO DE TRECHOS DE OBRA
MUSICAL. Constitui ofensa aos
direitos autorais a reprodução, sem autorização ou menção aos seus autores, em
periódico de cunho erótico, de trechos de determinada obra musical — que vinha sendo
explorada comercialmente, em segmento mercadológico diverso, pelos titulares de
seus direitos patrimoniais — no caso em que o trecho tenha sido utilizado para
dar completude ao ensaio fotográfico publicado, proporcionando maior
valorização do produto comercializado. Em regra, a exploração
comercial da obra e a escolha dos meios em que ela ocorrerá são direitos
exclusivos do autor. De fato, a utilização de pequenos trechos de obras
preexistentes somente não constitui ofensa aos direitos autorais quando a
reprodução, em si, não seja o objetivo principal da obra nova, não prejudique a
exploração normal daquela reproduzida, nem cause prejuízo injustificado aos
legítimos interesses dos autores (art. 46, VIII, da Lei 9.610/1998). Nesse
contexto, verificado que a situação em análise não se enquadra na exceção, por
ter sido a obra utilizada em caráter de completude, e não de acessoriedade, bem
como pelo fato de que esta vinha sendo explorada comercialmente em segmento
mercadológico diverso pelos titulares de seus direitos patrimoniais, deve-se
reconhecer, na hipótese, a ocorrência de efetiva violação aos direitos dos
autores. REsp 1.217.567-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
7/5/2013.
DIREITO DO
CONSUMIDOR. VIOLAÇÃO DO DEVER DE INFORMAÇÃO PELO FORNECEDOR. No caso em
que consumidor tenha apresentado reação alérgica ocasionada pela utilização de
sabão em pó, não apenas para a lavagem de roupas, mas também para a limpeza
doméstica, o fornecedor do produto responderá pelos danos causados ao
consumidor na hipótese em que conste, na embalagem do produto, apenas pequena e
discreta anotação de que deve ser evitado o "contato prolongado com a
pele" e que, "depois de utilizar" o produto, o usuário deve
lavar e secar as mãos. Isso
porque, embora não se possa falar na ocorrência de defeito intrínseco do
produto — haja vista que a hipersensibilidade ao produto é condição inerente e
individual do consumidor —, tem-se por configurado defeito extrínseco do
produto, qual seja, a inadequada informação na embalagem do produto, o que
implica configuração de fato do produto (CDC, art. 12) e, por efeito,
responsabilização civil do fornecedor. Esse entendimento deve prevalecer,
porquanto a informação deve ser prestada de forma inequívoca, ostensiva e de
fácil compreensão, principalmente no tocante às situações de perigo, haja vista
que se trata de direito básico do consumidor (art. 6°, III, do CDC) que se
baseia no princípio da boa-fé objetiva. Nesse contexto, além do dever de
informar, por meio de instruções, a forma correta de utilização do produto,
todo fornecedor deve, também, advertir os usuários acerca de cuidados e
precauções a serem adotados, alertando sobre os riscos correspondentes,
principalmente na hipótese em que se trate de um grupo de hipervulneráveis
(como aqueles que têm hipersensibilidade ou problemas imunológicos ao produto).
Ademais, o art. 31 do CDC estabelece que a “oferta e apresentação de produtos
ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas
e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade,
composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados,
bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores”.
Por fim, ainda que o consumidor utilize o produto para a limpeza do chão dos
cômodos da sua casa — e não apenas para a lavagem do seu vestuário —, não há
como isentar a responsabilidade do fornecedor por culpa exclusiva do consumidor
(CDC, art. 12, § 3º, III) em razão de uso inadequado do produto. Isso porque a
utilização do sabão em pó para limpeza doméstica não representa, por si só,
conduta descuidada apta a colocar a consumidora em risco, haja vista que não se
trata de uso negligente ou anormal do produto, sendo, inclusive, um
comportamento de praxe nos ambientes residenciais. REsp 1.358.615-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
2/5/2013.
DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO À IMPENHORABILIDADE DO BEM DE FAMÍLIA. No
âmbito de execução de sentença civil condenatória decorrente da prática de ato
ilícito, é possível a penhora do bem de família na hipótese em que o réu também
tenha sido condenado na esfera penal pelo mesmo fundamento de fato. A Lei 8.009/1990 institui a impenhorabilidade do bem
de família como instrumento de tutela do direito fundamental à moradia. Por sua
vez, o inciso VI do art. 3º desse diploma legal estabelece que “a impenhorabilidade
é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária,
trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido por ter sido adquirido com
produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a
ressarcimento, indenização ou perdimento de bens”. O legislador, ao registrar a
exceção, não tratou do caso de execução de título judicial civil decorrente da
prática de ato ilícito, ainda que devidamente apurado e cuja decisão tenha
transitado em julgado. Nesse contexto, pode-se concluir que o legislador optou
pela prevalência do dever do infrator de indenizar a vítima de ato ilícito que
tenha atingido bem jurídico tutelado pelo direito penal e que nesta esfera
tenha sido apurado, sendo objeto, portanto, de sentença penal condenatória
transitada em julgado. Dessa forma, é possível afirmar que a ressalva contida
no inciso VI do art. 3º da referida lei somente abrange a execução de sentença
penal condenatória — ação civil ex delicto —, não alcançando a
sentença cível de indenização, salvo se, verificada a coexistência dos dois
tipos, as decisões tiverem o mesmo fundamento de fato. Precedente citado: REsp
209.403-RS, Terceira Turma, DJ 5/2/2001. REsp 1.021.440-SP, Min. Rel. Luis Felipe Salomão, julgado em
2/5/2013.
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