Sugar daddy e sugar
baby: transparência nas relações afetivas (parte 1)
José Fernando Simão. Professor da Faculdade
de Direito da USP. Livre-docente, Doutor e Mestre pela USP. Advogado e
Consultor Jurídico.
“O dinheiro é um
tema que detona a
emergência e a evidência de todos os
contratos tácitos e implícitos que
invariavelmente permeiam nossas relações.”
(Clara Coria, em O Sexo Oculto do Dinheiro)
emergência e a evidência de todos os
contratos tácitos e implícitos que
invariavelmente permeiam nossas relações.”
(Clara Coria, em O Sexo Oculto do Dinheiro)
Há algum tempo,
fui convidado pelos professores Oksandro Gonçalves e Marcia Carla Pereira para
proferir uma palestra na PUCPR. O tema era "Análise Econômica do
Direito", e tive o prazer de aprender com os professores Ricardo Lupion
e Cesar Santolim e com os organizadores do evento, que gentilmente me
convidaram para falar sobre os princípios sociais dos contratos.
Na palestra do professor Oksandro, tomei
conhecimento de um site chamado Meu Patrocínio e imediatamente
acessei a internet para ver do que se tratava. Passei, então, a conhecer a
figura do sugar daddy.
Sugar — açúcar em inglês — e daddy — papai
— são duas palavras que, somadas, indicam que o homem, mais velho e, por
isso, papai, se dispõe a “bancar” mulher mais jovem. Não se trata de um site de
prostituição em que homens, após manutenção de relação sexual, pagam pelos
serviços prestados. É uma relação em que o homem mais velho tem prazer em se
relacionar com mulher mais jovem que gosta de ser mimada, ganhar presentes,
viajar, comer em bons restaurantes, sair para lugares chiques. Já o homem mais
velho, normalmente em uma fase da vida pela qual poucas mulheres mais jovens
sentem atração, paga para ela e proporciona alguns luxos, prazeres que a ela
estariam negados em razão do custo.
Imagino que o
leitor deva estar se perguntando: não é possível que uma mulher mais jovem se
apaixone por um homem mais velho? A resposta é positiva e isso acontece. O site
simplesmente proporciona que, se isso não ocorreu com você, homem com mais
de 50 anos, com recursos financeiros, você possa estar na companhia de uma
mulher mais jovem que dividirá com você os prazeres da vida: viagens,
restaurantes, shows, espetáculos etc.
Para as candidatas a sugar babies, o
site informa: “Você merece o melhor que o mundo tem a oferecer e está preparada
para agarrar uma oportunidade. Quer um mentor, alguém que te apoie nos estudos
ou na carreira, emocional ou financeiramente. O Meu Patrocínio te ajuda a
encontrar alguém generoso e experiente para um relacionamento maduro, transparente e
sem joguinhos, cheio de viagens fantásticas e mimos”.
Já para os possíveis sugar daddies, o
texto é o seguinte: “Você trabalhou muito para se tornar a pessoa bem-sucedida
que é hoje. Quer o melhor que a vida tem a oferecer, e prefere que seja com
alguém que compartilhe dessa energia e tenha conteúdo suficiente para trilhar o
caminho com você, onde quer que seja. O Meu Patrocínio te ajuda a encontrar
mulheres atraentes e promissoras para um relacionamento verdadeiro e
transparente”.
Os adjetivos
indicam que o que se oferece é algo maduro, verdadeiro e transparente. O casal
não precisa “de joguinhos” para atingir seus objetivos. A relação é clara.
Transparência é o que vende o site.
Transparência
significa que as partes não ocultam seus interesses. Ela não quer uma relação
amorosa, nem ele. São pessoas que buscam companhia e convívio com regras bem
claras: "Tudo é combinado, sem mal-entendidos", segundo o texto
do site.
Em minha opinião,
o site reflete aspectos claros dos novos tempos ou pós-modernidade.
A primeira marca
desses tempos é que as pessoas buscam diversas formas de prazer, além das
tradicionais. Há muita criatividade e hedonismo. Não é necessários buscar o
prazer apenas no sexo, apenas no namoro, apenas no casamento, apenas nas viagens,
apenas nos restaurantes e nos presentes.
A segunda marca
dos tempos em que vivemos é que são tempos de experimentar novos modelos.
Poucos dizem, ninguém escreve, mas muitos sentem que o modelo construído para
os relacionamentos heterossexuais e copiados pelas famílias homoafetivas de
casamento ou união estável é um modelo decadente e em franca mudança.
No século XX, o
Direito mudou apenas as relações entre homens e mulheres por meio da igualdade
e ampliou às pessoas do mesmo sexo o acesso a modelos em crise e de pouco ou
nenhuma efetividade e afetividade. O século XXI assiste a um questionamento dos
modelos de relação e admite que há relações diferentes das tradicionais.
A terceira marca é
a transparência. Os aplicativos de relacionamento, que são muitos, exigem que o
utilizador seja direto: o que quer, quando quer e em que condições quer.
É isso que faz o site Meu Patrocínio.
Demonstra que interesse é palavra avalorativa, nem positiva nem negativa,
e que todas as pessoas em toda e qualquer relação o tem. Interesse não é algo
pejorativo ou negativo. É simplesmente a vontade de estar com. Nada mais.
Mas há mais a
compreender. Na parte 2, Giselle Groeninga fará considerações a partir da
Psicanálise a respeito da ideia de transparência nas relações afetivas.
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