RESUMO. INFORMATIVO 531 DO STJ.
DIREITO CIVIL.
TARIFAS DE ABERTURA DE CRÉDITO E DE EMISSÃO DE CARNÊ ATÉ 30/4/2008. RECURSO
REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). Nos contratos
bancários celebrados até 30/4/2008 (fim da vigência da Resolução 2.303/1996 do
CMN), era válida a pactuação de Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) e de Tarifa
de Emissão de Carnê (TEC), ressalvado o exame de abusividade em cada caso
concreto. Nos termos dos
arts. 4º e 9º da Lei 4.595/1964, recebida pela CF como lei complementar,
compete ao Conselho Monetário Nacional (CMN) dispor sobre taxa de juros e sobre
a remuneração dos serviços bancários e ao Bacen fazer cumprir as normas
expedidas pelo CMN. Ao tempo da Resolução CMN 2.303/1996, a orientação estatal
quanto à cobrança de tarifas pelas instituições financeiras era essencialmente
não intervencionista. A regulamentação facultava às instituições financeiras a
cobrança pela prestação de quaisquer tipos de serviços, com exceção daqueles que
a norma definia como básicos, desde que fossem efetivamente contratados e
prestados ao cliente, assim como respeitassem os procedimentos voltados a
assegurar a transparência da política de preços adotada pela instituição. A
cobrança das tarifas TAC e TEC é, portanto, permitida se baseada em contratos
celebrados até o fim da vigência da Resolução 2.303/1996 do CMN, ressalvado
abuso devidamente comprovado caso a caso, por meio da invocação de parâmetros
objetivos de mercado e circunstâncias do caso concreto, não bastando a mera
remissão aos conceitos jurídicos abstratos ou à convicção subjetiva do
magistrado. Tese firmada para fins do art. 543-C do CPC: “Nos contratos
bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN 2.303/96)
era válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de
carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, ressalvado o exame
de abusividade em cada caso concreto”. REsp
1.251.331-RS e REsp
1.255.573-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgados em 28/8/2013.
DIREITO CIVIL.
TARIFAS DE ABERTURA DE CRÉDITO E DE EMISSÃO DE CARNÊ E TARIFA DE CADASTRO APÓS
30/4/2008. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). Não
é possível a pactuação de Tarifa de Abertura de Crédito (TAC) e de Tarifa de
Emissão de Carnê (TEC) após 30/4/2008 (início da vigência da Resolução
3.518/2007 do CMN), permanecendo válida a pactuação de Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo
padronizador da autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início
do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira. Com o
início da vigência da Resolução 3.518/2007 do CMN, em 30/4/2008, a cobrança por
serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada às
hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pelo Bacen.
Em cumprimento ao disposto na referida resolução, o Bacen editou a Circular
3.371/2007. A TAC e a TEC não foram previstas na Tabela anexa à referida
Circular e nos atos normativos que a sucederam, de forma que não mais é válida
sua pactuação em contratos posteriores a 30/4/2008. Permanece legítima,
entretanto, a estipulação da Tarifa de Cadastro, a qual remunera o serviço de
"realização de pesquisa em serviços de proteção ao crédito, base de dados
e informações cadastrais, e tratamento de dados e informações necessários ao
inicio de relacionamento decorrente da abertura de conta de depósito à vista ou
de poupança ou contratação de operação de crédito ou de arrendamento mercantil,
não podendo ser cobrada cumulativamente" (Tabela anexa à vigente Resolução
3.919/2010 do CMN, com a redação dada pela Resolução 4.021/2011). Ademais,
cumpre ressaltar que o consumidor não é obrigado a contratar esse serviço de
cadastro junto à instituição financeira, pois possui alternativas de
providenciar pessoalmente os documentos necessários à comprovação de sua
idoneidade financeira ou contratar terceiro (despachante) para fazê-lo. Tese
firmada para fins do art. 543-C do CPC: “Com a vigência da Resolução CMN
3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para
pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma
padronizadora expedida pela autoridade monetária. Desde então, não mais tem
respaldo legal a contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de
Abertura de Crédito (TAC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador.
Permanece válida a Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo
padronizador da autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início
do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira.” REsp
1.251.331-RS e REsp
1.255.573-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgados em 28/8/2013.
DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA PARA O PROCESSAMENTO DE EXECUÇÃO DE PRESTAÇÃO
ALIMENTÍCIA. Na definição da competência para o processamento de
execução de prestação alimentícia, cabe ao alimentando a escolha entre: a) o
foro do seu domicílio ou de sua residência; b) o juízo que proferiu a sentença
exequenda; c) o juízo do local onde se encontram bens do alimentante sujeitos à
expropriação; ou d) o juízo do atual domicílio do alimentante. De fato, o descumprimento de obrigação alimentar,
antes de ofender a autoridade de uma decisão judicial, viola o direito à vida
digna de quem dela necessita (art. 1º, III, da CF). Em face dessa
peculiaridade, a interpretação das normas relativas à competência, quando o
assunto é alimentos, deve, sempre, ser a mais favorável aos alimentandos,
sobretudo em se tratando de menores, por incidência, também, do princípio do
melhor interesse e da proteção integral à criança e ao adolescente (art. 3º da
Convenção sobre os Direitos da Criança e art. 1º do ECA). Nesse contexto, é
relativa (e não absoluta) a presunção legal de que o alimentando, diante de seu
estado de premente necessidade, tem dificuldade de propor a ação em foro
diverso do seu próprio domicílio ou residência, que dá embasamento à regra do
art. 100, II, do CPC, segundo a qual é competente o foro “do domicílio ou da
residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos”, de modo que
o alimentando pode renunciar à referida presunção se lhe for mais conveniente
ajuizar a ação em local diverso. Da mesma forma, ainda que se trate de execução
de alimentos – forma especial de execução por quantia certa –, deve-se adotar o
mesmo raciocínio, permitindo, assim, a relativização da competência funcional
prevista no art. 475-P do CPC, em virtude da natureza da prestação exigida.
Desse modo, deve-se resolver a aparente antinomia havida entre os arts. 475-P,
II e parágrafo único, 575, II, e 100, II, do CPC em favor do reconhecimento de
uma regra de foro concorrente para o processamento de execução de prestação
alimentícia que permita ao alimentando escolher entre: a) o foro do seu
domicílio ou de sua residência (art. 100, II, CPC); b) o juízo que proferiu a
sentença exequenda (art. 475-P, II, e art. 575, II, do CPC); c) o juízo do
local onde se encontram bens do alimentante sujeitos à expropriação (parágrafo
único do art. 475-P do CPC); ou d) o juízo do atual domicílio do alimentante
(parágrafo único do art. 475-P do CPC). CC
118.340-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/9/2013.
DIREITO
AMBIENTAL E CIVIL. INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL DECORRENTE DA NÃO CONCESSÃO DE
AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DE DESMATAMENTO E QUEIMADA. Não gera dano
moral a conduta do Ibama de, após alguns anos concedendo autorizações para
desmatamento e queimada em determinado terreno com a finalidade de preparar o
solo para atividade agrícola, deixar de fazê-lo ao constatar que o referido
terreno integra área de preservação ambiental. Isso porque a negativa da autarquia recorrente em
conceder novas autorizações para queimada e desmatamento constitui a
harmonização de dois valores constitucionais supremos: de um lado, o
desenvolvimento do trabalho rural como fator de dignificação da pessoa humana,
de erradicação da pobreza e de valorização do núcleo familiar; de outro, a
preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado como condição de
continuidade do desenvolvimento da própria atividade rural. Diante das inúmeras
implicações negativas que o uso do fogo traz ao meio ambiente em geral, não se
pode considerar que atenda à função social a exploração da terra que provoque
danos à saúde, empobrecimento gradual do solo, perda de biodiversidade, danos à
rede de transmissão elétrica, entre outros, pois essas “externalidades” não
preenchem as exigências do art. 186, I e II, da CF. Com efeito, o atendimento
pleno da função social da propriedade requer que a propriedade seja aproveitada
de modo racional e adequado, os recursos naturais disponíveis sejam
adequadamente utilizados e a preservação do meio ambiente seja observada. Desse
modo, o art. 186 está perfeitamente harmonizado com os arts. 5º, XXII, e 225 da
CF, pelos quais o agricultor não se escusa do dever de preservar o meio
ambiente a pretexto de exercer seu direito constitucional de propriedade. Isso
porque, ao mesmo tempo em que o art. 225 da CF prevê a titularidade coletiva do
direito ao meio ambiente, determina também que é dever de toda a
sociedade defendê-lo e preservá-lo, nela incluído, portanto, o próprio
agricultor, que está constitucionalmente comprometido com a exploração
sustentável da agricultura. Como se pode depreender, o agricultor é
simultaneamente agente agressor do meio ambiente e titular do direito difuso à
preservação ambiental contra suas próprias técnicas agropastoris. Assim, não se
legitima a pretensão indenizatória que busca responsabilizar o Poder Público
por proteger o próprio agricultor – na qualidade de titular coletivo do direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado – contra os danos provocados pelas
suas próprias técnicas de plantio. Além disso, a simples vedação da utilização
de técnica degradadora no preparo do solo não impede que se dê continuidade à
atividade agrícola com o uso sustentável de técnicas alternativas à queima e ao
desmatamento. A excepcionalidade do emprego do fogo leva à inarredável
conclusão de que se trata de uma técnica de uso residual, subsidiário, devendo
ser preferidas as formas de preparo do solo que privilegiem a exploração
agrícola sustentável. Ademais, a concessão de autorização para queimada e
desmatamento nos anos anteriores não gera um direito para o agricultor, pois a
negativa configura nítido exercício do poder de autotutela (Súmula 473 do STF),
por meio do qual a Administração Pública busca justamente recompor a legalidade
do ato administrativo. Por fim, ganha substancial relevo o princípio da
supremacia do interesse público sobre o privado, porque a limitação imposta
pelo Poder Público quanto à forma de exploração da propriedade constitui medida
restritiva a um direito individual que, todavia, reverte positivamente em favor
de um direito de titularidade difusa – o meio ambiente. Posto isso, a
eliminação dos fatores de agressão ao meio ambiente, muito antes de obstar a
exploração agrícola ou mesmo reduzir sua produtividade, objetiva, justamente,
garantir a existência de condições futuras para a continuidade do
desenvolvimento da atividade de campo. REsp
1.287.068-RR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/9/2013.
DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. CABIMENTO DE AÇÃO DE NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA MOVIDA POR
CONDOMÍNIO CONTRA CONDÔMINO. O condomínio tem legitimidade ativa para
ajuizar contra o condômino ação de nunciação de obra nova com pedidos de
paralisação e de demolição de construção irregular erguida pelo condômino em
área comum para transformar seu apartamento, localizado no último andar do
edifício, em um apartamento com cobertura, sem o consentimento expresso e
formal de todos os proprietários do condomínio, nem licença da Prefeitura
Municipal, causando danos à estética do prédio e colocando em perigo as suas
fundações. Inicialmente,
embora o art. 934 do CPC não inclua o condomínio entre os legitimados para
ajuizar ações de nunciação de obra nova contra condôminos, deve-se
interpretá-lo de forma teleológica, considerando o evidente interesse do
condomínio de buscar as medidas possíveis em defesa dos interesses da
coletividade que representa, de modo que o condomínio é parte legítima para
figurar no polo ativo da demanda. Deve-se ressaltar, ademais, que não é
adequado defender o descabimento da ação de nunciação de obra nova na hipótese
sob o argumento de que a demanda teria caráter possessório – diante da invasão
pelo condômino construtor de área comum do condomínio –, e não de direito de
vizinhança, tendo em vista a existência, nesse tipo de demanda, de fundamentos
estritamente ligados a direito de vizinhança, já que se trata de caso em que os
pedidos também se fundamentam no fato de a obra colocar em perigo a estrutura
do prédio como um todo. REsp
1.374.456-MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 10/9/2013.
DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. INEXISTÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO NO ÂMBITO
DE AÇÃO DE NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA. No âmbito de ação de nunciação de
obra nova movida por condomínio contra condômino objetivando a paralisação e a
demolição de construção irregular erguida pelo condômino em área comum para
transformar seu apartamento, localizado no último andar do edifício, em um
apartamento com cobertura, não há litisconsórcio passivo necessário com os
condôminos proprietários dos demais apartamentos localizados no último andar do
edifício. Isso porque a
situação em apreço não se enquadra nas hipóteses previstas no art. 47 do CPC,
considerando o fato de que o litígio não exige solução uniforme em relação aos
demais condôminos ocupantes do último andar do edifício. REsp
1.374.456-MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 10/9/2013.
DIREITO
PROCESSUAL CIVIL. PRISÃO CIVIL DE DEVEDOR DE ALIMENTOS. Na hipótese de
superveniência de sentença que fixa alimentos em quantia inferior aos
provisórios, a prisão civil do devedor somente pode ser admitida diante do não
pagamento do valor resultante do cômputo das prestações vencidas com base no
novo valor estabelecido pela sentença. De fato, a prisão civil é medida coercitiva extrema,
aplicável apenas em situações de débito de pensão alimentícia, em razão da
premissa de que a liberdade do alimentante deve ser constrangida para garantir
a sobrevivência do alimentando. Por isso, ao decretar a prisão civil do devedor
de alimentos, devem-se considerar as peculiaridades do caso concreto,
adequando-o à correta compreensão da norma jurídica. Deve-se considerar, nesse
contexto, que, por ocasião do arbitramento dos alimentos provisórios, o binômio
necessidade e possibilidade é examinado sumariamente, mediante análise de
cognição perfunctória. Já na prolação da sentença, o referido binômio é
apreciado sob um juízo cognitivo exauriente. Assim, a medida da prisão civil,
por ser extrema, não se revela como a via executiva adequada
(razoabilidade/proporcionalidade) para coagir o alimentante ao pagamento de um
valor fixado em sede de cognição perfunctória e correspondente a montante
superior ao arbitrado definitivamente em sentença, após ampla análise do
conjunto probatório. Portanto, a prisão civil de devedor de alimentos, no caso
de fixação pela sentença de alimentos definitivos em valor inferior aos
provisórios, somente poderá ser admitida diante do não pagamento com base no
novo valor estabelecido pela sentença. A diferença deve ser buscada nos termos
do art. 732 do CPC. HC
271.637-RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 24/9/2013.
DIREITO CIVIL.
IMPOSSIBILIDADE DE PRISÃO CIVIL DO INVENTARIANTE PELO INADIMPLEMENTO DE PENSÃO
ALIMENTÍCIA. Não cabe prisão civil do inventariante em razão do
descumprimento do dever do espólio de prestar alimentos. Isso porque a restrição da liberdade constitui sanção
de natureza personalíssima que não pode recair sobre terceiro, estranho ao
dever de alimentar. De fato, a prisão administrativa atinge apenas o devedor de
alimentos, segundo o art. 733, § 1°, do CPC, e não terceiros. Dessa forma,
sendo o inventariante um terceiro na relação entre exequente e executado – ao
espólio é que foi transmitida a obrigação de prestar alimentos (haja vista o
seu caráter personalíssimo) –, configura constrangimento ilegal a coação, sob
pena de prisão, a adimplir obrigação do referido espólio, quando este não
dispõe de rendimento suficiente para tal fim. Efetivamente, o inventariante
nada mais é do que, substancialmente, auxiliar do juízo (art. 139 do CC/2002),
não podendo ser civilmente preso pelo descumprimento de seus deveres, mas sim
destituído por um dos motivos do art. 995 do CC/2002. Deve-se considerar,
ainda, que o próprio herdeiro pode requerer pessoalmente ao juízo, durante o
processamento do inventário, a antecipação de recursos para a sua subsistência,
podendo o magistrado conferir eventual adiantamento de quinhão necessário à sua
mantença, dando assim efetividade ao direito material da parte pelos meios
processuais cabíveis, sem que se ofenda, para tanto, um dos direitos
fundamentais do ser humano, a liberdade. Precedente citado: REsp 1.130.742-DF,
Quarta Turma, DJe 17/12/2012. HC
256.793-RN, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1º/10/2013.
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